USAID: Parcerias, Interferências e o Que Deu Errado na Assistência Internacional
Introdução
A Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) tem sido uma peça fundamental na estratégia de política externa dos Estados Unidos desde sua criação em 1961. Com a missão declarada de promover o desenvolvimento econômico, a assistência humanitária e a consolidação de instituições democráticas, a USAID atua em mais de 100 países ao redor do mundo.
No entanto, sua atuação nem sempre foi livre de controvérsias. Muitas críticas apontam que a agência ultrapassa seu papel humanitário e se envolve em interferências políticas, financiando grupos opositores, desestabilizando governos e influenciando políticas locais.
Neste artigo, vamos explorar a trajetória da USAID, seus impactos globais, os principais casos de interferência e o que deu errado ao longo dos anos.
O Que é a USAID?
A USAID (United States Agency for International Development) é uma agência independente do governo dos EUA, embora opere sob orientação do Departamento de Estado. Seu objetivo principal é fornecer assistência financeira e técnica a países em desenvolvimento para promover o crescimento sustentável e fortalecer a estabilidade global.
As áreas de atuação da USAID incluem:
- Saúde global
- Segurança alimentar
- Educação
- Resposta a desastres
- Promoção da democracia
- Desenvolvimento econômico
A agência trabalha em parceria com governos locais, ONGs e instituições multilaterais, como a ONU e o Banco Mundial, para implementar seus projetos.
Parcerias e Programas da USAID
A USAID tem uma presença significativa em diversos países, especialmente na América Latina, África e Ásia. Seus programas variam de assistência emergencial a projetos de longo prazo voltados para infraestrutura e desenvolvimento social.

Entre seus programas mais conhecidos, estão:
- Feed the Future: iniciativa para combater a fome e fortalecer a segurança alimentar.
- PEPFAR: programa de combate ao HIV/AIDS, focado principalmente na África.
- Power Africa: iniciativa para aumentar o acesso à eletricidade no continente africano.
- Global Health Security Agenda: projeto para fortalecer a segurança sanitária e prevenir pandemias.
Apesar dessas iniciativas positivas, a USAID também esteve envolvida em diversas controvérsias que levantam questões sobre seus reais objetivos.
Principais Controvérsias e Acusações Contra a USAID
1. Interferência Política e Desestabilização de Governos
A USAID foi acusada em diversas ocasiões de usar sua assistência como ferramenta para interferir em políticas internas de países estrangeiros. Algumas das acusações mais conhecidas incluem:
- Chile (década de 1970): documentos revelaram que a USAID financiou grupos opositores ao governo de Salvador Allende, pouco antes do golpe militar de 1973 que levou Augusto Pinochet ao poder.
- Venezuela: denúncias indicam que a agência canalizou milhões de dólares para ONGs e mídias oposicionistas durante os governos de Hugo Chávez e Nicolás Maduro.
- Cuba: a USAID criou a rede social “ZunZuneo”, uma espécie de “Twitter cubano”, para disseminar conteúdos anti-governo e incentivar protestos.
Esses casos reforçam a visão de que a USAID não se limita à assistência humanitária, mas também age como um braço de influência política dos EUA.
2. Financiamento de ONGs e Movimentos de Oposição
A USAID frequentemente destina recursos para organizações da sociedade civil nos países onde atua. No entanto, há diversas denúncias de que esse financiamento tem sido direcionado para grupos com agendas políticas específicas.
Em países como Bolívia, Nicarágua e Haiti, a agência foi acusada de apoiar organizações que trabalhavam ativamente contra os governos locais, muitas vezes incentivando protestos e movimentos de desestabilização.
Esse tipo de atuação levanta questões sobre a real neutralidade da USAID e sobre os critérios usados para selecionar seus parceiros.
3. Falhas na Gestão de Recursos e Escândalos de Corrupção
Além das acusações de interferência política, a USAID também foi alvo de críticas por má gestão de recursos e desperdício de verbas públicas. Alguns dos maiores escândalos incluem:
- Desperdício de US$ 9,5 bilhões em suprimentos médicos: a agência prometeu um sistema eficiente para distribuição de remédios, mas falhas logísticas resultaram em perda de bilhões de dólares.
- Contratos superfaturados no Afeganistão: auditorias revelaram que empresas contratadas pela USAID para reconstrução do Afeganistão desviaram milhões de dólares.
- Projetos fracassados no Haiti: após o terremoto de 2010, a USAID prometeu reconstruir infraestrutura no país, mas muitos projetos ficaram inacabados ou foram considerados ineficazes.
Esses escândalos mostram que, além das críticas políticas, a agência também enfrenta desafios internos relacionados à transparência e eficiência na alocação de recursos.
O Papel da USAID na América Latina
A América Latina tem sido uma das regiões onde a USAID atua com maior intensidade. Seu histórico na região é marcado tanto por iniciativas positivas quanto por controvérsias.

Investimentos e Projetos na Região
Nos últimos anos, a USAID investiu bilhões de dólares em programas voltados para:
- Combate à pobreza e desigualdade
- Desenvolvimento sustentável na Amazônia
- Fortalecimento de instituições democráticas
- Segurança alimentar
Um exemplo é o Parceria para a Conservação da Biodiversidade na Amazônia (PCAB), que busca proteger o ecossistema amazônico e melhorar a qualidade de vida das populações locais.
Acusações de Interferência na Política Regional
Ao mesmo tempo em que promove esses programas, a USAID enfrenta acusações de interferência política. Governos como os da Bolívia e Nicarágua expulsaram a agência de seus territórios, alegando que ela financiava grupos de oposição e tentava influenciar processos eleitorais.
A influência da USAID na América Latina continua sendo um tema de debate, especialmente em tempos de crescente polarização política.
O Futuro da USAID e as Reformas Necessárias
Diante das críticas e escândalos, algumas reformas são necessárias para que a USAID recupere sua credibilidade e realmente cumpra seu papel humanitário.
1. Maior Transparência nos Investimentos
Para evitar acusações de manipulação política, a USAID precisa tornar públicos os critérios usados para financiar ONGs e governos parceiros.
2. Auditorias Mais Rigorosas
Escândalos de corrupção e desperdício de recursos devem ser combatidos com auditorias independentes e maior prestação de contas ao público.
3. Separação Clara Entre Ajuda Humanitária e Política Externa
A USAID deve garantir que sua atuação seja estritamente voltada para o desenvolvimento e não um instrumento de influência política dos EUA.
Conclusão
A USAID desempenha um papel crucial na assistência internacional, mas sua atuação é frequentemente alvo de críticas por interferências políticas, falhas na gestão de recursos e financiamento questionável de ONGs.
Para que a agência continue sendo uma força positiva no mundo, são necessárias reformas que garantam maior transparência, eficiência e respeito à soberania dos países onde atua.
O debate sobre o papel da USAID continua, e seu futuro dependerá de sua capacidade de se adaptar a um mundo cada vez mais atento à transparência e ética na cooperação internacional.